Novas técnicas ajudam na evolução da medicina

E se você conseguisse viver com o seu coração parado durante a recuperação de um problema gravíssimo de saúde? E, se antes de uma cirurgia, o médico pudesse fazer uma impressão em 3D dos seus órgãos e, assim, simular o procedimento, ou até mesmo fazer a cirurgia em um ambiente virtual podendo antever possíveis dificuldades? E se o tratamento contra o câncer atingisse diretamente apenas as células doentes e não todos os órgãos, amenizando os efeitos colaterais e garantindo melhor resultado e recuperação ao paciente? E se a identificação de um gene ou a mudança na formação genética pudesse evitar o desenvolvimento de uma doença futura e dar qualidade de vida às pessoas?

Agora tire todos os “e se” e os considere como possíveis. Algumas técnicas podem até parecer ficção científica, mas na verdade são procedimentos ligados à Medicina que já são realizados ou estão em fase de teste em instituições de Porto Alegre. Que os avanços da tecnologia têm mudado a realidade clínica não é nenhuma novidade. Em poucas décadas, algumas doenças que eram incuráveis ou que nem chegavam a ser identificadas passaram a ser tratadas evitando procedimentos agressivos e, às vezes, a morte. Tudo isso é resultado de diagnósticos mais precisos, tratamentos personalizados e novos equipamentos, que têm permitido um salto na qualidade de vida e provocado uma revolução na Medicina. Mas aguarde. Esse é apenas o início.

Uma vida sem coração

Um dos desafios da Medicina é tornar possível o impossível. Tudo bem, mas daí a imaginar a possibilidade de viver temporariamente sem o coração? Pois isso já acontece com o apoio de um equipamento chamado ECMO (em inglês Extracorporeal Membrane Oxygenation, na tradução Oxigenação da Membrana Extracorpórea). Segundo o médico responsável pelo seu funcionamento no Hospital da Santa Casa de Porto Alegre, cirurgião cardiovascular Fernando Lucchese, o ECMO representa a última possibilidade de vida de alguns pacientes. “É uma solução que antes não existia no caso da cardiologia para aquele caso grave. Conseguimos dar um tempo a mais. E mais da metade desses pacientes se recupera”, revela. Basicamente, a lógica do funcionamento é simples.

O equipamento é colocado no paciente com problema cardíaco severo, substituindo o coração e deixando o órgão, por assim dizer, descansar. Quem vê pela primeira vez a máquina funcionando pode compará-la às de hemodiálise, que filtram o sangue, no lugar da função do rim. No caso do ECMO, uma membrana é colocada no coração ou no pulmão, deixando eles adormecidos. Para garantir o seu funcionamento, uma equipe multidisciplinar, que envolve enfermeiros, intensivistas e biomédicos, entre outros, acompanha a evolução do paciente.Um dos monitores, por exemplo, mostra o panorama da pessoa atendida, a pressão, os batimentos cardíacos e a oxigenação do sangue. É uma espécie de mapa completo do funcionamento do corpo.

ALINA SOUZA

O cirurgião Fernando Lucchese acredita no avanço da tecnologia na medicina

Neste período de atendimento, o paciente fica em coma induzido, até conseguir recuperar a função, o que pode variar de poucos dias até algumas semanas. “O equipamento faz 100% da operação do coração. Ele tira o sangue de dentro da artéria e da veia e oxigena o sangue. O coração fica parado. E neste período vamos auxiliando o órgão a se recuperar para que volte a funcionar sozinho”, explica Lucchese. Reconhecido pela sua atuação, o médico diz que avanços tecnológicos como este permitem situações únicas. “Há pouco menos de 50 anos existiam dois ou três remédios e as cirurgias eram incipientes na nossa área. As dificuldades eram grandes. Atualmente, a variedade de recursos e instrumentos é enorme. E isso salva vidas”, avalia.

O ECMO não chega a ser uma grande novidade. Ele já vem sendo utilizado há mais tempo e com êxito fora do país, mas ainda são poucas as instituições no Brasil que contam com o aparelho. Além da cardiologia, o equipamento pode substituir a função respiratória, no caso de problemas graves de pulmão. Outro hospital que tem o ECMO é o de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Segundo o cirurgião torácico do HCPA, Cristiano Feijó Andrade, o equipamento foi essencial no caso de um paciente que aguardava transplante pulmonar e no atendimento de vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, há cinco anos. Na ocasião, em função da inalação da fumaça, muitos ficaram com seus sistemas respiratórios comprometidos

A mudança genética

Com a agitação de pacientes, o barulho de ambulâncias que chegam a todo o momento e os enormes corredores dos prédios do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, é um tanto quanto difícil imaginar o que acontece em algumas salas e laboratórios. São pesquisas que beiram os filmes de ficção científica. Um dos estudos de ponta em andamento no Centro de Pesquisa Experimental do HCPA envolve a edição genômica. E os primeiros resultados mostram-se positivos. A pesquisa no momento é realizada em animais. Na prática, é feita a correção de uma alteração (ou mutação) genética. Isso evita o desenvolvimento de um tipo de doença, chamada mucopolissacaridose tipo 1, causada pela deficiência de uma enzima. Sem tratamento, essa patologia pode comprometer diretamente a qualidade de vida do paciente e o levar à morte.

Ainda há um longo caminho até essa técnica ser aplicada em pacientes. Mas, segundo a chefe do serviço de Pesquisa Experimental, Ursula Matte, os resultados obtidos indicam que o tratamento funciona. “Até o momento, os testes mostram que após a correção, há um aumento persistente na atividade da enzima, que gera redução de todas as complicações que a doença provoca”, explica. Efetivamente, a correção genética poderá ter caráter curativo e até preventivo, trazendo solução para pacientes que hoje só têm acesso a tratamentos paliativos. O objetivo da correção é restaurar a função do gene, evitando que a pessoa venha a manifestar a doença, como explica Ursula. Além disso, o estudo abre uma gama inimaginável de estudos e tratamentos relacionados a várias outras doenças genéticas. Porém, é preciso garantir que essas alterações não tenham impactos negativos nos pacientes. Assim, os estudos são complexos e de longo prazo.

Segundo o vice-presidente médico do HCPA, Milton Berger, o investimento em pesquisa e inovação é um dos pilares da instituição, junto com a assistência clínica e o ensino. Na prática, muitas técnicas e equipamentos começam em fase de testes no Clínicas e depois são repassados para outras instituições. Um exemplo do pioneirismo é a utilização da cirurgia robótica, que foi ampliada gradativamente nos últimos anos, como destaca o professor do serviço de Urologia do HCPA e adjunto cirúrgico Brasil Silva Neto. A expansão da cirurgia robótica, segundo ele, tem sido grande e conquistado benefícios consideráveis aos pacientes.

GUILHERME ALMEIDA

Estudos envolvendo edição genômica poderão ter, no futuro, não apenas um caráter curativo, mas também preventivo

O Hospital Moinhos de Vento adquiriu um robô para utilização em algumas cirurgias. Os benefícios com este tipo de procedimento são grandes e revolucionam algumas intervenções. São procedimentos menos invasivos, com cortes menores, menos sangramento e riscos de infecção e recuperação mais rápida. Assim, o paciente fica menos tempo internado. No caso do Moinhos, uma das utilizações tem sido na retirada da próstata. A intervenção é a mesma, mas o ambiente é distinto. Diferente da cirurgia aberta, o médico tem uma visão tridimensional, com um panorama amplo e detalhado de onde ocorre o procedimento, garantindo assim mais informações na sua tomada de decisão. Outro benefício é a rotação completa do punho do equipamento (360 e até 720 graus), o que não é possível apenas com a mão, e a eliminação do mínimo tremor, uma vez que as pinças estão acopladas ao robô. Em outras palavras, é a qualificação cirúrgica.

Sentado e com os braços apoiados no console, que movimenta o robô, o profissional atinge um nível de perfeição maior e tem menos desgaste e cansaço. Tradicionalmente o médico fica em pé várias horas seguidas. Segundo o superintendente médico do hospital, Luiz Antonio Nasi, os benefícios são relevantes, como a redução de complicadores. “A história da área cirúrgica é de uma época em que eram muito mutiladoras para um caminho em que o conceito é de menor lesão e mais rápida recuperação. É minimizar o risco e o tempo de internação.” Nesta mesma linha, o chefe do serviço de cirurgia geral do Moinhos de Vento, Artur Seabra ressalta que a prioridade no procedimento vai além do desfecho da doença, mas também busca garantir o menor transtorno ao paciente. “A cirurgia há 50 anos tinha o conceito de ‘grandes cirurgiões, grandes cirurgias’. Então, a agressão ao paciente estava intimamente ligada à cirurgia. Com o desenvolvimento de outras tecnologias, as agressões passaram a ser menores”, lembra. Para ele, o robô é a evolução desse processo.

O mundo virtual na medicina

E se um radiologista, ao invés de apenas ver radiografias e tomografias na tela, pudesse ver o que há dentro do corpo do paciente sem tocá-lo? E se conseguisse, por meio de um mundo virtual, ter uma perspectiva mais clara das intervenções que são necessárias, como uma cirurgia delicada ou a remoção de um tumor? Esses são alguns dos benefícios que estudos na área de realidade virtual e realidade aumentada proporcionam e que prometem revolucionar ainda mais a Medicina nos próximos anos. Um exemplo é o que ocorre bem longe das instituições hospitalares, em um laboratório do Instituto de Informática, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), no campus do Vale, em Porto Alegre.

Ao percorrer um verdadeiro labirinto de prédios, é em uma pequena sala que um grupo de professores e estudantes desenvolvem programas que fabricam estímulos sintéticos que substituem os sentidos naturais. Nos computadores, diversos programas rodam simultaneamente, abrindo portas para um mundo inimaginável. Mesmo que nem todos estejam ligados diretamente à Medicina, sua aplicação é questão apenas de adaptação, como explica o professor Anderson Maciel, que coordena o grupo de pesquisa em realidade virtual especializado para utilizações médicas. “É um campo vasto de aplicações e de funcionalidades, que, ao final, permitem um planejamento mais amplo de um tratamento e até a compreensão de uma determinada patologia, além, claro, da qualificação na formação dos profissionais”, diz Maciel, que também integra o IEEE, uma organização mundial dedicada a avanços tecnológicos.

ALINA SOUZA

Programa permite simular uma cirurgia, com direito à resposta de resistência na ponta dos dedos, o que permite uma dimensão da força necessária na operação

Em um dos programas, que está em negociação para ser licenciado por uma empresa internacional especializada em simulação cirúrgica, o usuário pode com um dispositivo, imitar uma cirurgia cardíaca. No mundo virtual, a caneta que está acoplada ao console torna-se uma série de equipamentos cirúrgicos, como pinça, tesoura e bisturi, podendo ser trocada com um simples movimento no teclado. No programa, as intervenções são feitas em um espaço no qual o coração pulsa, a vascularização é completa, inclusive com a presença dos demais órgãos e de sangue, que muda dependendo de onde houver o corte. Uma das diferenças é que o equipamento permite mais do que manusear o objeto no mundo virtual, mas ter a resposta de resistência na ponta dos dedos, que permite aos usuários ter uma dimensão da força que precisam utilizar para executar determinada tarefa. Assim, o ambiente criado virtualmente repete, mesmo que ainda não completamente, as condições reais.

“Já existem simuladores há alguns anos em hospitais e faculdades. Nós trabalhamos hoje na criação da próxima geração de simuladores, que busca um melhor realismo na aparência dos órgãos vivos e da reação ao contato com os outros órgãos, inclui a possibilidade de cortar, pinçar, cauterizar e dar pontos de sutura. E, nesta linha, aumentar a experiência de quem manuseia, na tentativa de substituir os sentidos, como o tato e a visão. Isso permitiria formar cirurgiões mais rapidamente e assim dar acesso a procedimentos complexos a um maior número de pacientes. Com a presença cada vez maior da cirurgia laparoscópica e robótica, também visamos disponibilizar na sala de operação acesso integrado a informações do paciente que podem ser úteis durante o procedimento, como exames de imagem projetados diretamente sobre a anatomia e acrescentar outros dados que possam ajudar na tomada de decisões corretas”, destaca Maciel. Outro avanço em estudo é conseguir reproduzir, neste ambiente virtual, as características de um paciente específico, permitindo aos cirurgiões planejar cada ação antes de partir para a operação propriamente dita.

Alvo certo: células doentes

Os tratamentos de quimioterapia revolucionaram o combate ao câncer a partir do século passado, o que aumentou as chances de se vencer a doença. Mas o caminho não é fácil. Uma das características do câncer é o crescimento desordenado de células, gerando os tumores. A quimioterapia, pelo seu nível tóxico, mata além das células doentes, mas também as saudáveis e provoca efeitos colaterais, como queda de cabelo, por exemplo. Com o avanço das pesquisas, uma série de descobertas trouxe avanços consideráveis, após a década de 90, com tratamentos mais específicos e eficazes. Uma dessas frentes são os estudos das vias metabólicas, que identificam as células doentes e não atingem todo o organismo. Isso proporcionou um salto no tratamento.

Um dos estudos pioneiros na área é desenvolvido no Hospital São Lucas, da PUCRS, no Centro de Pesquisa Clínica (CPC), que é referência no Brasil. Chamadas de “terapias alvo molecular”, os estudos são alternativas ao tratamento de câncer com pacientes voluntários. A grande diferença é que os medicamentos que eles recebem atuam na mutação específica do seu tipo câncer, levando em consideração as características genéticas, como explica o oncologista do Hospital São Lucas Márcio Debiasi, que coordena uma das pesquisas. “Como o nome diz, a terapia alvo atua nas mutações celulares no caso específico daquele paciente.” Atualmente, já existe o mapeamento de alguns tipos de cânceres em que é possível a aplicação dessas terapias, como os de mama, gastrointestinais, melanomas, linfomas, pulmão e geniturinário. Esse tipo de tratamento é possível pelo avanço das técnicas de biologia molecular e de rotas metabólicas, que identificam as células doentes.

No caso do câncer de mama, os alvos são os receptores do estrógeno e da progesterona (ambos hormônios). “Neste caso, é possível estimar que cerca de 20% a mais de pacientes estariam potencialmente curadas com a terapia alvo”. Os tratamentos com remédios representam um caminho relevante para o combate ao câncer. Mesmo assim, com o atual arsenal tecnológico, a tendência é que eles avancem mais rapidamente, unidos com procedimentos cirúrgicos cada vez menos invasivos e com menos impacto ao paciente, aumentando as chances de recuperação. “As previsões são de que em 2030 tenhamos de 70 a 80 milhões de pessoas no mundo vivas e curadas de câncer”, cita. Nesta mesma linha, um dos campos que está em evolução é a “oncogenética”, que tem como foco a identificação e tratamento do gene da célula que provoca o tumor.

E se o desafio é qualificar o tratamento, atingindo efetivamente as células doentes, no caso de câncer, o apoio de exames de alta qualidade é fundamental. É neste contexto que um equipamento de última geração está em operação no Hospital Mãe de Deus. O PET CT chamado de Discovery IQ é considerado o mais moderno da América Latina. A supertomografia, que foi adquirida no ano passado, traz uma série de benefícios aos profissionais e aos pacientes. Isso porque permite a identificação precoce de tumores e o acompanhamento mais detalhado do câncer ao longo do tratamento. A gestora responsável pelo Serviço de Medicina Nuclear, Clarice Sprinz, destaca que, na comparação com os modelos mais antigos, o equipamento é mais robusto e rápido, emitindo menos radiação ao paciente. Outro fator benéfico é a geração de imagens por vários ângulos do paciente e do tumor.

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Equipamentos de última geração têm sido fundamentais para auxiliar no combate ao câncer, possibilitando exames de alta qualidade

Segundo Clarice, que trouxe a tecnologia para o Estado há quase uma década, o exame traz imagens funcionais. “Por exemplo, é possível acompanhar o funcionamento do pulmão e identificar possíveis pequenas lesões, assim como processos metabólicos que estão ligados ao câncer”, detalha ela, ao acompanhar por 12 monitores as diferentes visões do mesmo exame. Clarice ressalta que no tratamento contra o câncer, a identificação adequada do tumor, assim como a avaliação durante o tratamento, são fundamentais para a recuperação do paciente.
“Hoje o grande apoio do médico oncologista a partir do diagnóstico e ao longo do tratamento são as boas imagens. Com o grau de precisão, é possível mostrar se a doença está ativa, onde está exatamente localizada e a sua extensão, se o tratamento está funcionando ou não. Isso muda completamente a visão do médico na escolha do tratamento, por exemplo. É um salto grande”, avalia.

O hospital também incorporou, recentemente, uma nova técnica no tratamento na área da oncologia, mas desta vez contra câncer de próstata, que é o segundo em taxas de mortalidade em homens, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O grande diferencial é a redução de 40 para 5 sessões de radioterapia. Mas afinal como isso é possível? Com a radioterapia ultra hipofracionada, que tem uma dose mais alta de radiação, clinicamente chamada de hipofracionamento extremo ou SBRT. A técnica está disponível no Mãe de Deus e também no Sírio-Libanês, em São Paulo. Porém, ela é indicada apenas para alguns perfis de pacientes.

Outro suporte relevante no tratamento contra o câncer é a plataforma digital Watson For Oncology, da IBM, que permite aos médicos consultar em questão de segundo milhares de conteúdos científicos produzidos no mundo. Além da agilidade da pesquisa, o resultado colabora na decisão do melhor tratamento contra sete tipos de câncer: colo do útero, pulmão, mama, intestino, reto, estômago e ovário. O Hospital Mãe de Deus é o primeiro da América do Sul a utilizar a plataforma colaborativa, que conta com mais de 15 milhões de conteúdos científicos.

Menos custos, mais atendimentos

Com a apropriação da tecnologia, a telemedicina tem auxiliado no enfrentamento de um problema presente na rede pública de atendimento: a espera por consultas especializadas. Na prática, mais do que só tecnologia, a telemedicina permitiu aproximar os médicos da atenção básica de saúde com os especialistas, aumentando a resolubilidade dos problemas da saúde pública. Um exemplo do benefício da plataforma foi conseguir zerar a fila de espera por uma consulta com um dermatologista em Porto Alegre. De janeiro a novembro de 2017, a fila de 5.830 consultas foi zerada, com o auxílio do aplicativo DermatoNet, desenvolvido em parceria com a TelessaúdeRS-Ufrgs. Pelo aplicativo, o médico da atenção primária pode captar imagens de lesões e repassar a um especialista, acompanhada ainda de um formulário com informações clínicas.

O retorno pode ocorrer em até 72h, indicando tratamento ou a necessidade de uma avaliação presencial com o dermatologista. Assim, o paciente não precisa entrar numa fila para tentar um agendamento com o especialista, o que fez o tempo de espera para a consulta cair drasticamente. No caso da dermatologia, passou de uma espera de meses para cerca de 15 dias na marcação com o especialista. Segundo o secretário municipal da Saúde, Erno Harzheim, que também atuou na criação da telemedicina, os ganhos são consideráveis, como resolver problemas de saúde na atenção básica.

“São três benefícios: garante acesso rápido; tem qualidade, com profissionais especialistas; reduz custos, com alta resolubilidade dos casos e evita que o paciente precise se deslocar. Traz escala ao serviço e aumenta o acesso”, explica. A plataforma, que começou a ser desenvolvida em 2005 e entrou em operação em março de 2007, mudou ao longo desse período, incorporando novas ferramentas. Se no início as tecnologias eram limitadas, com apenas uma plataforma que reunia informações e orientações médicas, depois, foi agregado o serviço por telefone, em que o médico poderia ligar, pegar informações e discutir diagnósticos com especialistas. Atualmente, o sistema já conta com 20 aplicativos em áreas diferentes.

Nesta mesma linha, no final de junho, houve o lançamento do projeto Regula +Brasil, envolvendo a prefeitura de Porto Alegre, o Hospital Sírio Libanês e o TelessaúdeRS-Ufrgs. A finalidade é a mesma: tentar reduzir as filas das consultas com especialistas. Além de Porto Alegre, o sistema será implantado ainda em outras quatro capitais – Distrito Federal, Rio de Janeiro, Manaus e Maceió, dentro o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). Na Capital, estão contempladas no projeto oito áreas de especialidades médicas (ortopedia, oftalmologia, neurologia, psiquiatria, reumatologia, proctologia, gastroenterologia e urologia), que contabilizam quase 55 mil consultas na espera.

ALINA SOUZA

A Medicina do futuro tende a ser mais preventiva e personalizada, usando como apoio a Inteligência Artificial e análises de banco de dados 

E o futuro?

Uma certeza é que a medicina do futuro passa pelas inovações tecnológicas. Assim como a expectativa e a qualidade de vida. E pelo caminhar avançado das evoluções é impossível não prever revoluções que vão bem além da prática médica, propriamente dita, como cirurgias e tratamentos, mas a possibilidade de identificar potenciais problemas clínicos antes mesmo de eles ocorrerem. O foco, neste caso, é a prevenção. Será que assim cirurgias poderão ser evitadas por correções que serão feitas pela genética?

Mas para atingir esse patamar de prevenção é preciso personalizar ainda mais o atendimento, como já ocorre em alguns tratamentos existentes. Neste ponto, o objetivo é ver o paciente como um indivíduo único, entendendo as suas características físicas e biológicas e o seu processo de resposta, achando a saída mais inteligente e eficiente para determinada situação. Nesta linha, a tecnologia está ligada a programas ou softwares com alta capacidade de processamento de dados, no melhor modelo de inteligência artificial. Essa união permite fazer apurações e identificar possíveis falhas genéticas em horas, o que manualmente seria inviável.

Essa é a linha de atuação do neurologista Pedro Schestatsky, que trabalha especificamente com a medicina de precisão. Segundo ele, a tecnologia disponível deve ser aproveitada para atuar na prevenção, ao invés da reação, como ocorre atualmente na medicina tradicional. Basicamente, o conceito é tratar antes o que futuramente seria diagnosticado. “A tecnologia deixou a Medicina mais preditiva, mais preventiva, mais proativa, mais personalizada e mais parceria do paciente (em relação ao médico). O futuro é brilhante do que poderemos ainda fazer e descobrir”, resume.

Neste conceito, a ferramenta principal é a análise do genoma, que ocorre pela amostra de sangue. Porém, ao invés das testes padrões, como estamos acostumados, ele é colocado em um banco de dados do software. Assim, a amostra passa a ser analisada em várias frentes simultaneamente, em níveis de especificidade que assustam num primeiro olhar. O software analisa 21 mil variantes do gene, indicando aqueles que têm maior risco de causar uma doença. O nível de detalhamento surpreende. Por exemplo, para saber o risco de um paciente em desenvolver problemas asmáticos é preciso analisar 119 genes e quais deles podem ser patológicos neste paciente e dentro de que contexto.

“Esses dados ajudam no desenvolvimento de estratégias para, além de aumentar a expectativa de vida do paciente, garantir qualidade neste período de vida”, explica. Reconhecendo a existência do olhar desconfiado de alguns profissionais da área médica, ele acredita que essa corrente de atuação traz outra grande diferença: deixar o paciente e o médico na mesma posição. Uma demonstração dessa postura é o próprio ambiente do consultório, mais clean, e a ausência do tradicional jaleco branco, o que desconcerta no primeiro momento aqueles menos avisados.
Superar as expectativas de vida é cada vez mais uma realidade. Onde chegaremos? À fonte da juventude eterna? A uma vida cada vez mais longa? É difícil responder. O certo é que a medicina aliada à tecnologia tem superado a cada dia a ficção científica e se tornado realidade.

Fonte: Correio do Povo

 

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